“Dez dias fazendo 40° C, os outros trinta dias fazendo 35°C e quarenta e dois dias sem chuva, sem uma gota d’água. É uma condição muito severa mesmo, como a gente nunca viveu em anos anteriores”, relata o produtor de café Pedro Berengan. A plantação dele fica em Cerqueira César (SP), um lugar onde décadas atrás o problema eram fortes geadas. As ondas de calor e a seca histórica criaram uma nova realidade para quem cultiva o grão no Brasil: pragas e doenças fora de controle, meses sem chuva e lavouras inteiras sendo perdidas.
O resultado é uma produção menor, o aumento nos preços e mesmo a qualidade do grão pode ficar comprometida. Estudos apontam que Minas Gerais e São Paulo, que estão entre os pólos do café no país, correm risco de perderem protagonismo. O café, assim como a laranja, está entre os alimentos que correm mais risco com o planeta ficando mais quente. Isso porque eles são uma agricultura perene, como se chama a categoria dos cultivos em que só é preciso plantar uma vez e a árvore dará frutos todos os anos. O momento mais crítico para essas culturas é o da florada, que, no caso do café, costuma acontecer entre setembro e novembro.
Nessa época, o calor e a seca podem acabar causando o aborto floral, que é quando as flores não geram os frutos. Comparada com os níveis pré-industriais, a temperatura do planeta já subiu cerca de 1°C, segundo o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) da Organização das Nações Unidas. A previsão é de que, entre 2030 e 2050, o aquecimento será de mais 1,5°C. Parece, pouco, mas não é. Para o café arábica, o mais produzido no Brasil, que aguenta uma temperatura entre 18°C e 22°C, o impacto pode ser devastador.